São chegados os tempos: a era do “Homo Moralis”
Sempre ouvimos dizer que “são chegados os tempos”. Tempos de grandes
mudanças em que a harmonia virá a reinar sobre nosso planeta. Mas o que pouca
gente pontua, no entanto, são as aparentes perturbações que serão causadas por
este processo. Sendo assim, devido ao fato de não citarmos tão frequentemente que
os novos tempos são precedidos por grandes dificuldades, fica parecendo que
estes tempos nem estão tão chegados assim. Dá a impressão de que: ou os
espíritos se equivocaram em sua profecia, ou o momento das grandes mudanças
ainda não chegou.
Para que compreendamos como os novos tempos se estabelecem em nosso
planeta, devemos primeiro entender a maneira pela qual Deus nos ensina a
reformar nossos espíritos. Seria muito belo, afinal, se num estalar de dedos
Ele inaugurasse os novos tempos, e repentinamente as pessoas passassem a emitir
mais amor umas pelas outras ou que se iniciasse uma encarnação em massa de
espíritos benevolentes. Porém, a mudança repentina de quem sempre agiu de
maneira escusa não faz o mínimo sentido, e a encarnação em massa de espíritos
superiores aqui na Terra consistiria na substituição dos inferiores que aqui se
encontram por estes mais elevados, o que significa que nós – espíritos ainda
moralmente atrasados (sim, não adianta pensar que você ou eu somos exceções) –
seríamos apenas transferidos deste mundo para outro e manteríamos os mesmos
padrões de comportamento em nossa nova morada. Desta maneira, quando os novos
tempos também chegassem a este planeta, seríamos transferidos para outro, assim
sucessivamente.
Portanto, a mudança repentina realizada por Deus, apesar de linda e
indolor, não vai ocorrer. E se não vai ser através do estalar de dedos divino
que iremos mudar, então como será? Sim, através da dor. Desde a pré-história,
sempre foi a dor que nos estimulou a buscar melhores condições materiais e
morais. E se antes a dor simplesmente nos fazia sair do lugar para escapar a um
sofrimento e para buscar melhores situações materiais, hoje podemos ter certeza
de que avançamos intelectualmente o suficiente para que a dor nos induza também
à reflexão sobre o que não está bom em nossas relações para assim traçarmos
estratégias no intuito de aprimorá-las. E é por isso que não há chegada de
novos tempos sem que nossas feridas estejam expostas.
Não há a possibilidade de revisitarmos as mais escuras arestas de nossas
personalidades caso estejamos usufruindo de bonança material ou emocional. Se
as condições forem favoráveis, podemos até mesmo escondê-las e manifestá-las
apenas quando ninguém está olhando, mas estas chagas comportamentais permanecerão
em nosso âmago até que uma situação de provação as exponha. E é somente quando
temos as feridas abertas, isto é, nossas vicissitudes trazidas à tona pelas
condições externas, que somos capazes de reconhecê-las e, porventura,
combatê-las. Ainda assim, não é certeza que nos engajaremos na reforma de
nossas atitudes imediatamente após notar suas deficiências. Afinal, muitas
destas ações negativas moralmente nos proporcionam prazer. E no cálculo egoísta
de nossos corações pouco evoluídos, nossos subconsciente pode facilmente optar
por se manter agindo desta forma, mesmo que tais ações prejudiquem um outro
alguém. E é aí que a dor desempenha seu papel. Quando sofremos no mesmo âmbito
em que fazemos sofrer, entendemos de coração o quão terríveis são as nossas más
ações. É assim que nos obstinamos a, de fato, reformar nossa conduta.
Sabendo disso, creio que fica bem fácil notar que hoje, ano de 2019, os
tempos são mesmo chegados. Nossa sociedade nunca esteve tão dividida e as
tensões entre os pares se elevam cada vez mais. As pessoas sente-se encorajadas
a ofender abertamente, a destilar seu ódio sem represálias e a admitir todos os
seus preconceitos sem corar. Nunca nossas feridas estiveram assim tão abertas,
e nunca tivemos tamanha sensação de ladeira abaixo como temos hoje. Porém, a
desesperança advinda desta piora nas relações entre as pessoas não se sustenta
se utilizarmos o ponto de vista do espírito imortal para compreender a
situação. Precisamos mergulhar em nossas mais profundas falhas de caráter para
admitirmos a existência das mesmas e, assim, buscar extinguí-las. É necessário
que vejamos as partes mais feias da personalidade alheia, não para que
julguemos, lamentemos ou percamos a esperança na humanidade, mas para que nos
preparemos melhor para educar quem ainda guarda sentimentos retrógrados no
coração. Devemos sempre lembrar que, se já tivemos a oportunidade de superar
uma má tendência em determinado sentido, em outros ainda precisamos de tempo,
educação e muita paciência de outros para melhorar. E com a mesma veemência com
que julgamos os atrasados em determinada atitude negativa seremos também
julgados em outras más ações que viermos a praticar.
Os tempos são chegados, de fato. Tempos em que deveremos deixar de ser
os simples homo sapiens sapiens de sempre, em busca de melhorias técnicas para
promoção de facilidades (como outrora fomos, nos dedicando majoritariamente a
desenvolver ideias que nos proporcionaram o acesso a lugares distantes e a
informações complexas). Afinal, se prestarmos atenção em que pé anda a marcha
da humanidade, perceberemos que chegamos a uma época em que a produtividade, a
tecnologia e a ciência em geral já atingiram altíssimos níveis. Com o
conhecimento que temos hoje já seria possível proporcionar a todos uma vida materialmente
confortável e, por isso, livre de uma série de problemas que atrasam nossa
evolução. Mas se não há mais necessidade de aprimorar a utilização de recursos
para satisfazermos as necessidades de todas as pessoas, por que não o fazemos
de uma vez?
A resposta está na deficiência moral de cada um de nós que compomos esta
massa de espíritos, encarnados e desencarnados, da Terra. E é por isso que
chegou o tempo de nos tornarmos de vez o homem moral. O ser que se preocupa
majoritariamente com sua conduta no objetivo de fazer os outros e a si mesmo
mais felizes. O ser que não se descuida das minúcias de sua personalidade,
sempre se preocupando com errar o menos possível, pois sabe que suas falhas de
caráter podem ferir a suscetibilidade das pessoas ao seu redor. O ser que está
a todo momento procurando todo o bem que pode fazer, mesmo nas frivolidades do
dia-a-dia, sempre atento às palavras e pensamentos que poderiam violar a lei
natural de Deus, a fim de evitá-los. O Homo Moralis, se quisermos usar um termo
do latim.
Somente quando esta revolução interna se vulgarizar e tornar-se uma meta
coletiva, é que vamos sentir a real mudança prometida pelos novos tempos. É
importante pontuar, contudo, que este é um processo deveras lento em nossa
visão. Pois os grandes processos coletivos (estamos falando de mais de 20
bilhões de espíritos, entre encarnados e desencarnados) não ocorrem no período
de uma única geração da vida humana. Mais do que nunca precisamos nos utilizar
de nosso ponto de vista espiritual para entender que os olhos de nosso corpo
atual não verão esta mudança se completar. Agora que as feridas estão se
escancarando (pois já vinham se abrindo há muitas décadas) é que o processo irá
realmente começar. Tenhamos paciência conosco e com os outros, mas que jamais
deixemos de avançar.
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