Semana
passada tratamos da Lei de Adoração, que dentro dos três deveres
que o Espírito atento à sua necessidade de evolução precisa
honrar, se enquadra em seu dever para com Deus. Os outros dois
deveres consistem em sua preocupação com a natureza das relações
que mantém consigo mesmo, e também aquelas que cultiva com o outro.
Neste tema trataremos mais intimamente de nossa relação conosco
mesmo, utilizando-nos das leis morais correspondentes à mesma.
Muitos
de nós já ouviu dizer, pois é lugar comum no Espiritismo, que a
lei de Deus foi inscrita em nós mesmos no momento da criação. O
leitor atento de o Livro dos Espíritos vai certamente notar também
que esta inscrição opera em nós como um aconselhamento constante
no âmbito consciencial, sutilmente chamando nossa atenção para os
possíveis equívocos que possamos ter cometido na vida moral. A
relevância dos conselhos que a consciência (produto da lei de Deus
inscrita em nós) nos fornece, entretanto, dependerá do quanto
estamos sintonizados com ela. Caso estejamos fortemente empenhados em
fazer o mal, ela não será nada mais que uma voz rouca sufocada
pelos altos ruídos da vida mundana. Mas se bem utilizada, a voz
interior da lei divina será sempre uma fonte inesgotável de
renovação e de orientação nos caminhos tortuosos que a vida
impõe.
Conforme
podemos verificar no estudo da obra supracitada, entre as
características da lei natural divina está o dever do Espírito em
progredir sempre, rumo ao seu destino da perfeição relativa, ou
seja, num patamar abaixo do Criador, perfeito dentro dos parâmetros
da criatura. Esta norma intrínseca à nossa existência gera um
desejo incessante por avançar. E mesmo que o ser se mostre arredio
no nível da consciência, seu subconsciente frequentemente o
direciona para caminhos que irão lhe proporcionar valiosos
aprendizados. Quem afinal nunca se sentiu impelido a, sem razões
aparentes, viver situações que evidentemente resultariam em
sofrimento e só depois de alguns anos condenou as próprias
escolhas, perguntando-se aonde estava com a cabeça naquela época?
Isso não significa, obviamente, que todas as nossas más escolhas
foram fruto deste desejo inconsciente por progresso. Muito pelo
contrário, se déssemos a devida atenção a esta voz interior que
nos convida a sermos melhores, nem precisaríamos sucumbir para
aprender, mas nos esforçaríamos verdadeiramente para evitar tais
situações. Contudo, como temos um senso moral ainda bastante
defasado, nosso subconsciente, depois de um algum tempo de estagnação
moral, acaba apelando para esta tática no intuito de nos fazer
avançar na marra, como se fosse um tratamento de choque.
A
vigilância das leis morais do Livro dos Espíritos que estão
ligadas aos nossos deveres conosco mesmos é essencial para que
atinjamos o objetivo do progresso que nossas almas tanto anseiam. A
Lei do trabalho nos possibilita o desenvolvimento da inteligência,
pois nos dias de trabalho somos constantemente confrontados por
situações que nos levam a superar todos os nossos limites. Por
outro lado, através do trabalho também somos os instrumentos de que
Deus se dispõe para desenvolver o meio no qual estamos inseridos.
A
Lei de Reprodução - ferramenta cujo objetivo biológico é a
perpetuação da espécie - nos propicia a maravilha da reencarnação.
Mas os mecanismos do sexo, se usados com vistas à satisfação da
sensualidade, torna-se objeto de perdição do espírito nos caminhos
da vida, pois se no reino animal o sexo é apenas uma ferramenta de
reprodução, no hominal ele se torna a coroação do amor entre dois
espíritos parceiros na jornada da evolução.
A
Lei de Conservação nos dá o impulso necessário à
autopreservação, sem a qual não nos importaríamos em manter
nossas próprias vidas, e, consequentemente, teríamos nossas vidas
facilmente abreviadas cedo demais por situações que poderiam ser
evitadas com um pouco mais de zelo. Desta maneira, não fugiríamos
dos perigos e nem buscaríamos absorver energia através da
alimentação e, portanto, não viveríamos o suficiente para
aprender o que a encarnação neste mundo pode nos ensinar.
Por
fim, a Lei de Destruição, que é intrínseca à natureza da
matéria. Pois tudo o que existe no reino das formas deve,
eventualmente, perecer. A destruição nada mais é que a renovação
das formas, que são destruídas para tomarem outras características,
em outros lugares. Não à toa, a ciência recentemente confirmou que
nossos corpos têm poeira estelar em sua composição. Além de
cumprir o papel da renovação, a destruição possibilita a
reencarnação dos espíritos, através da morte do ser velho para o
renascimento de um ser novo. Não fosse a reencarnação e tivéssemos
de viver a vida eterna na terra, rápido chegaria o momento em que os
possíveis aprendizados desta existência se esgotariam. Necessário
é que estagiemos em variadas sociedades, classes sociais, situações
familiares e profissionais para estarmos sempre ampliando nossos
conhecimentos e aprimorando nosso senso moral.
Ainda
assim, a destruição deixa-nos quase sempre um gosto amargo na boca,
pois representa o fim de ciclos que pouco ou nada compreendemos.
Tomamos o perecimento da matéria pelo fim da existência e recebemos
a destruição com tristeza e desespero. Devido à crença niilista
que tem ganhado força desde o iluminismo, perdemos nossa capacidade
de nutrir fé pelo futuro. E esta fé é a certeza de que o espírito
possui sim um fim: nascer, morrer, renascer ainda é progredir
sempre, conforme consta na lápide do codificador da doutrina
espírita. Seu destino é tornar-se perfeito e, por consequência,
adquirir a felicidade eterna. Se alienado deste destino, o espírito
rompe com sua natureza divina e perde a conexão com a fonte fecunda
da energia criadora do Universo. Os resultados disso são estas
grandes chagas que vemos hoje generalizadas entre a humanidade.
O
ser humano, afinal, por conta dos séculos de evolução, bem ou mal
aprendeu a viver com o calor escaldante, com o frio intenso ou em
meio aos conflitos, mas de maneira nenhuma consegue viver sem
perspectiva de futuro. Se, proposital ou intencionalmente,
desconstruímos a perspectiva de futuro de alguém sem lhe dar
nenhuma outra em troca para refletir, nós já o matamos. Vemos
exemplos disso diariamente; pessoas que se entregam às mais
sofríveis provações sem reclamar porque possuem uma perspectiva de
futuro na qual confiam e sabem que alcançarão em breve, e pelo
outro lado, aqueles que usufruem de uma vida abastada e cheia de
momentos de lazer mas não possuem qualquer perspectiva do que virá
no futuro e por isso seu emocional adoece lentamente sem que saibam o
motivo.
Há,
entretanto, uma vida futura a nos aguardar. Não somos andarilhos que
erram sem ter um objetivo fixo, mas sim peregrinos, migrando de um
local para outro em busca do automelhoramento e com a consciência de
que cedo ou tarde voltaremos ao lar para colher os frutos de nosso
trabalho. O perecimento da forma é inevitável para cumprir o papel
da renovação, mas não atinge a nós espíritos. E disso temos
conhecimento porque há mais ou menos 200 anos o mundo dos vivos
estendeu a mão ao mundo dos que irão morrer. Vieram até nós para
anunciar: “irmãos, somos imortais!”. A morte é uma travessia.
Apenas a mudança do veículo pelo qual o espírito se expressa.
Somos
o que pensamos que somos. Isto é, vivemos de acordo com o que
acreditamos ser e acabamos buscando nos tornar, constantemente e cada
vez mais, este indivíduo que idealizamos. E só entra em sintonia
conosco aquilo com que nos identificamos, mais ou menos. Por isso, se
nos identificamos plenamente com o mundo material e com os gozos que
esta vida proporciona, estamos fundamentando nossa existência com
elementos perecíveis, que irão morrer. Ora, se vivemos suportados
por alicerces impermanentes e mortais isso significa que existimos
aqui como meio mortos meio vivos. E o morto vivo vive uma vida que é
meio morte e meio vida.
Portanto,
sabendo que somos imortais, não há sentido em vivermos como mortos
vivos, nos apoiando em coisas que serão, invariavelmente, levadas
pelo tempo. Viva como um imortal e aja como um imortal até mesmo nas
pequenas coisas do dia-a-dia. Não ame como se possuísse as pessoas,
pois estamos lado a lado com pessoas que amamos no intuito de
progredirmos e ajudarmos a progredir. Ame como um imortal. Um imortal
que pensa verdadeiramente no bem dos outros e não exige condições
para fazer o bem a eles mas o faz porque sabe que um imortal deve
levar desta encarnação o maior número de afetos que conseguir
nutrir. Um imortal que sabe que o reencontro entre os que se amam
virá em algum lugar do tempo, mesmo que deixem a Terra em momentos
diferentes de suas histórias. Desperte sua consciência espiritual
para transformar sua conduta na de um imortal que se atenta, acima de
tudo, às más tendências que deve domar e às virtudes que pode
adquirir em sua jornada terrena.
Nenhum comentário:
Postar um comentário