Desde
2008 a Mocidade Espírita do Paz e Amor tem feito um estudo minucioso
das obras da série André Luiz, psicogafada por Chico Xavier.
Começamos por “Nosso Lar” e, quase onze anos depois, estamos
terminando o segundo livro da série: “Os Mensageiros”. Logo se
vê que não há pressa de nossa parte no estudo destas obras. Nos
dedicamos a elas em um tema a cada dois meses, dois capítulos por
tema, buscando esmiuçar atentamente os aprendizados que os livros
nos fornecem. O objetivo central é apresentar, paralelamente aos
temas focados em nosso automelhoramento - que tratamos nas demais
reuniões -, um exemplo prático dos frutos que colhemos na vida
espiritual após uma existência de semeaduras predominantemente
materiais ou, por outro lado, de valorização dos bens espirituais.
Os
capítulos 47 e 48 retratam de maneira bastante lúdica a
movimentação dos espíritos durante os trabalhos dentro da casa
espírita. A dinâmica de trabalho dos benfeitores espirituais é
mostrada passo a passo, dando-nos explicações valiosas que mostram
a importância de valorizarmos a ação da casa espírita não só no
aprendizado dos encarnados que a frequentam mas também na evolução
de legiões de espíritos desencarnados que são para lá levados.
Além do que, estes capítulos nos levam a uma reflexão aprofundada
sobre a relação das pessoas com a morte e evidencia o quão
essencial se faz um preparo religioso robusto para que estejamos
preparados para o momento derradeiro. Este preparo religioso, no
entanto, não diz respeito à obediência às normas e dogmas
impostos pelos templos, mas se refere à prática da religiosidade,
que é o “diálogo” mais ou menos frequente que travamos com
nossa espiritualidade. É a consciência do eu-espírito e,
consequentemente, o contato que estabelecemos com a divindade durante
a encarnação. Uma religiosidade fraca consiste em pouco contato com
nosso verdadeiro eu, o eu imortal que sobrevive à travessia da
desencarnação, e uma religiosidade forte significa a total
consciência sobre a realidade espiritual e sobre os valores
realmente importantes para a felicidade do espírito no longo prazo.
O
capítulo 47 trata mais intimamente da dinâmica de serviços
empregada pelos espíritos durante o trabalho na casa. André Luiz
destaca a dificuldade de se obter resultados efetivos na esfera
carnal por conta da instabilidade dos frequentadores. A grande
maioria manifesta a impossibilidade de concentração, uns
dispersando a cada poucos minutos e direcionando seus pensamentos
para assuntos triviais do dia-a-dia, outros cochilando sem pudor em
meio aos trabalhos, e outros ainda emanavam pelo pensamento elevadas
expectativas que acabavam por perturbar ainda mais o ambiente. Tais
comportamentos promoviam ali um ambiente prejudicial às capacidades
mediúnicas dos trabalhadores, assim como impediam que o palestrante
desse um rumo retilíneo ao seu raciocínio, fazendo-o perder mais de
uma vezes o “fio das ideias”. Aniceto, o orientador de André
Luiz, esclarece que a concentração nas questões espirituais é
muito complicada quando as pessoas não dedicam qualquer momento de
sua rotina à prática da religiosidade e nem mesmo elevam seu
pensamento a Deus para uma simples prece de agradecimento. Esperar
concentrar-se nos trabalhos espirituais nestas condições é pura
ilusão.
Enquanto
os trabalhadores espirituais buscavam acordar os dorminhocos e
neutralizar as vibrações nocivas dos mais desconcentrados, dois
trabalhadores solicitaram ao coordenador que pudessem se comunicar
diretamente com seus entes queridos presentes na palestra, ao que o
mesmo respondeu que tais intervenções mais os prejudicaria que
ajudaria, pois os tornariam dependentes e preguiçosos, além de que,
pelo fato de estes encarnados se encontrarem tão resistentes às
ideias de espiritualidade, o esforço destas intervenções se
configurariam num desperdício de valiosos tempo e energia para estes
laboriosos trabalhadores.
No
capítulo 48, outros esclarecimentos são dados em relação àquele
trabalho realizado na casa espírita. Um deles é uma coisa que
muitos espíritas devem se perguntar: Afinal por que os espíritos
benfeitores levam os desencarnados necessitados à casa espírita
para tratá-los? Não seria melhor levá-los a ambientes mais
elevados da própria dimensão espiritual para fazê-lo? Aniceto nos
explica que isso ocorre, primeiramente, porque os espíritos
recém-desencarnados possuem uma necessidade muito comum de
agrupamento com aqueles que ainda vivem na Terra, pois ainda é cedo
demais para se desligarem de seus costumes terrenos. Sentem,
portanto, “saudade do rebanho” de encarnados. Além disso, sua
adaptação à pátria espiritual se dá gradativamente e é mais
eficiente se convivem em meio aos dois mundos simultaneamente. Em
segundo lugar, os encarnados têm uma grande utilidade para o
tratamento espiritual dos necessitados, pois possuem o fluido
magnético animal que anima seus corpos, e tal fluido pode ser
manipulado pelos benfeitores na aplicação de passes magnéticos
para tratamento dos desencarnados em condições inferiores. Sendo
assim, segundo Aniceto, até mesmo os frequentadores dorminhocos e
desconcentrados contribuem para o trabalho, apenas oferecendo sua
presença.
Em
seguida, Aniceto e seus pupilos receberam um pedido de auxílio. Ali
perto uma moça recém-desencarnada recusava-se a deixar seu corpo,
crente de ainda estar viva. Seu noivo, desencarnado poucos meses
antes, postava-se ao seu lado com semblante preocupado, suplicante,
pedindo a ela que partisse consigo e que deixasse para trás o mundo
das coisas perecíveis rumo às maravilhas da vida eterna. A moça,
porém, estava aterrorizada. Sequer queria abrir os olhos para
olhá-lo de tanto medo. Aniceto interveio e pediu ao rapaz que se
afastasse um pouco, tranquilizando-o. Ele então agiu e conversou com
a moça como se fosse um médico da Terra e ela se acalmou,
demonstrando que ainda acreditava piamente estar viva. O bondoso
orientador lhe recomendou dormir um pouco e a moça assim o fez
porque realmente se sentia muito cansada. Quando ele lhe aplicou o
passe magnético, a moça caiu em sono profundo e pôde ser levada
pelo noivo à colônia espiritual mais próxima.
Aniceto
comenta que esta relutância em aceitar o momento derradeiro se dá,
em grande parte, pela falta de preparação religiosa das pessoas
durante a encarnação. Acrescenta ele que aquela mulher era uma
pessoa espontaneamente bondosa e por isso não necessitaria de um
período de expurgo nas regiões umbralinas antes de prosseguir para
os próximos estágios de seu aprendizado. No entanto, a absorção
de noções de mundo de nossa cultura predominantemente materialista
faz com que afastemos qualquer reflexão sobre a inevitabilidade do
momento da morte. Nossa sociedade ocidental, com o advento do
iluminismo, acabou por romper bruscamente com o pensamento da
espiritualidade, e por motivos totalmente compreensíveis - já que a
sociedade medieval estava imersa num regime monárquico orientado
intimamente pelos dogmas da igreja. As pessoas por muito tempo
utilizaram a religião como forma de exercer poder, e isso levou boa
parte da sociedade na época - em especial os mais questionadores - a
adquirir grande repulsa pela ideia de religião, ao invés de
rejeitar apenas os que dela abusavam.
Na
modernidade, ciência e religião são totalmente separadas e não se
misturam. A “ciência esclarece e ilumina” e a “religião
emburrece e obscurece”. Sendo assim, a rejeição de uma pela outra
cresceu a níveis alarmantes, e as consequências deste antagonismo
irracional resultou no estado emocional instável da coletividade nos
tempos atuais. Afinal, a racionalidade científica, ainda que nos
proporcione imensas facilidades, se não estiver acompanhada da
iluminação espiritual e de uma perspectiva da vida futura não
preenche a totalidade de nosso ser. Nos deixa, portanto, incompletos.
No
sistema capitalista vigente, faz-se também necessário criar,
constantemente, demanda para a oferta que garantirá o crescimento
econômico ano após ano. Esta prática culmina na criação de
necessidades e hábitos de consumo através da propaganda e do
marketing. E o marketing, por sua vez, no intuito de fidelizar a
demanda, associa ideias poderosas aos produtos que estão à venda.
Sobretudo, busca convencer o vulgo de que seu produto trará a
felicidade instantaneamente. Ora, o que é mais anticlímax para
alcançar a felicidade do que a lembrança de que vamos morrer? A
morte representa justamente o abandono de tudo aquilo que pode ser
comprado. A ruptura com todas as alegrias terrenas que a cultura
moderna idolatra. Portanto, por ser anticlímax, a morte acaba sendo
marginalizada pelas mídias de todos os tipos, sendo tratada quase
como inexistente em livros, filmes e programas de TV. Logo, o medo
que temos da travessia - natural por nosso desconhecimento em relação
à morte - é fortificado pela rejeição absorvida no entretenimento
e nos costumes. Paralelamente, o apego que desenvolvemos em relação
à vida na Terra e aos entes queridos agrava o horror que temos do
momento de desencarne, pois nos assusta enormemente pensar que não
estará mais ao nosso alcance (mesmo que por um breve período de
tempo) uma pessoa que sempre nos foi acessível e cujo amor sempre
esteve à nossa disposição.
Sendo
assim, quando Aniceto diz que falta preparo religioso às pessoas
para que passem pela transição com maior tranquilidade, ele não se
refere à necessidade de seguirmos normas dentro de determinada
doutrina, mas de refletirmos mais frequentemente sobre a natureza da
verdadeira vida, a eterna vida do espirito imortal. Trata-se de
despertar a consciência espiritual para entender que a atual
existência nada mais é que uma viagem da qual levamos somente os
frutos de nossas próprias ações, e para compreender que nossa
felicidade dependerá do esforço que empregamos para fazer os outros
mais felizes, sejam eles próximos ou não. Contudo, refletir sobre a
verdadeira vida consiste também em manter em mente a inevitabilidade
da morte. Pois a morte, juntamente com a reencarnação e com a busca
incessante do ser pelo progresso, compõe o ciclo perfeito da
existência espiritual, o ciclo que nos levará um dia para os braços
ternos do Pai, e que pode ser representado pela bela frase de Kardec:
“Nascer, morrer, renascer ainda, progredir sempre, tal é a lei”.
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