quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Trabalhos espíritas e o Medo da Morte (os Mensageiros, Capítulos 47 e 48)!!!

Texto referente ao tema de 20/01: "Trabalhos espiritas e o Medo da Morte" (Os Mensageiros, Capítulos 47 e 48)!!!

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Desde 2008 a Mocidade Espírita do Paz e Amor tem feito um estudo minucioso das obras da série André Luiz, psicogafada por Chico Xavier. Começamos por “Nosso Lar” e, quase onze anos depois, estamos terminando o segundo livro da série: “Os Mensageiros”. Logo se vê que não há pressa de nossa parte no estudo destas obras. Nos dedicamos a elas em um tema a cada dois meses, dois capítulos por tema, buscando esmiuçar atentamente os aprendizados que os livros nos fornecem. O objetivo central é apresentar, paralelamente aos temas focados em nosso automelhoramento - que tratamos nas demais reuniões -, um exemplo prático dos frutos que colhemos na vida espiritual após uma existência de semeaduras predominantemente materiais ou, por outro lado, de valorização dos bens espirituais.



Os capítulos 47 e 48 retratam de maneira bastante lúdica a movimentação dos espíritos durante os trabalhos dentro da casa espírita. A dinâmica de trabalho dos benfeitores espirituais é mostrada passo a passo, dando-nos explicações valiosas que mostram a importância de valorizarmos a ação da casa espírita não só no aprendizado dos encarnados que a frequentam mas também na evolução de legiões de espíritos desencarnados que são para lá levados. Além do que, estes capítulos nos levam a uma reflexão aprofundada sobre a relação das pessoas com a morte e evidencia o quão essencial se faz um preparo religioso robusto para que estejamos preparados para o momento derradeiro. Este preparo religioso, no entanto, não diz respeito à obediência às normas e dogmas impostos pelos templos, mas se refere à prática da religiosidade, que é o “diálogo” mais ou menos frequente que travamos com nossa espiritualidade. É a consciência do eu-espírito e, consequentemente, o contato que estabelecemos com a divindade durante a encarnação. Uma religiosidade fraca consiste em pouco contato com nosso verdadeiro eu, o eu imortal que sobrevive à travessia da desencarnação, e uma religiosidade forte significa a total consciência sobre a realidade espiritual e sobre os valores realmente importantes para a felicidade do espírito no longo prazo.



O capítulo 47 trata mais intimamente da dinâmica de serviços empregada pelos espíritos durante o trabalho na casa. André Luiz destaca a dificuldade de se obter resultados efetivos na esfera carnal por conta da instabilidade dos frequentadores. A grande maioria manifesta a impossibilidade de concentração, uns dispersando a cada poucos minutos e direcionando seus pensamentos para assuntos triviais do dia-a-dia, outros cochilando sem pudor em meio aos trabalhos, e outros ainda emanavam pelo pensamento elevadas expectativas que acabavam por perturbar ainda mais o ambiente. Tais comportamentos promoviam ali um ambiente prejudicial às capacidades mediúnicas dos trabalhadores, assim como impediam que o palestrante desse um rumo retilíneo ao seu raciocínio, fazendo-o perder mais de uma vezes o “fio das ideias”. Aniceto, o orientador de André Luiz, esclarece que a concentração nas questões espirituais é muito complicada quando as pessoas não dedicam qualquer momento de sua rotina à prática da religiosidade e nem mesmo elevam seu pensamento a Deus para uma simples prece de agradecimento. Esperar concentrar-se nos trabalhos espirituais nestas condições é pura ilusão.



Enquanto os trabalhadores espirituais buscavam acordar os dorminhocos e neutralizar as vibrações nocivas dos mais desconcentrados, dois trabalhadores solicitaram ao coordenador que pudessem se comunicar diretamente com seus entes queridos presentes na palestra, ao que o mesmo respondeu que tais intervenções mais os prejudicaria que ajudaria, pois os tornariam dependentes e preguiçosos, além de que, pelo fato de estes encarnados se encontrarem tão resistentes às ideias de espiritualidade, o esforço destas intervenções se configurariam num desperdício de valiosos tempo e energia para estes laboriosos trabalhadores.



No capítulo 48, outros esclarecimentos são dados em relação àquele trabalho realizado na casa espírita. Um deles é uma coisa que muitos espíritas devem se perguntar: Afinal por que os espíritos benfeitores levam os desencarnados necessitados à casa espírita para tratá-los? Não seria melhor levá-los a ambientes mais elevados da própria dimensão espiritual para fazê-lo? Aniceto nos explica que isso ocorre, primeiramente, porque os espíritos recém-desencarnados possuem uma necessidade muito comum de agrupamento com aqueles que ainda vivem na Terra, pois ainda é cedo demais para se desligarem de seus costumes terrenos. Sentem, portanto, “saudade do rebanho” de encarnados. Além disso, sua adaptação à pátria espiritual se dá gradativamente e é mais eficiente se convivem em meio aos dois mundos simultaneamente. Em segundo lugar, os encarnados têm uma grande utilidade para o tratamento espiritual dos necessitados, pois possuem o fluido magnético animal que anima seus corpos, e tal fluido pode ser manipulado pelos benfeitores na aplicação de passes magnéticos para tratamento dos desencarnados em condições inferiores. Sendo assim, segundo Aniceto, até mesmo os frequentadores dorminhocos e desconcentrados contribuem para o trabalho, apenas oferecendo sua presença.



Em seguida, Aniceto e seus pupilos receberam um pedido de auxílio. Ali perto uma moça recém-desencarnada recusava-se a deixar seu corpo, crente de ainda estar viva. Seu noivo, desencarnado poucos meses antes, postava-se ao seu lado com semblante preocupado, suplicante, pedindo a ela que partisse consigo e que deixasse para trás o mundo das coisas perecíveis rumo às maravilhas da vida eterna. A moça, porém, estava aterrorizada. Sequer queria abrir os olhos para olhá-lo de tanto medo. Aniceto interveio e pediu ao rapaz que se afastasse um pouco, tranquilizando-o. Ele então agiu e conversou com a moça como se fosse um médico da Terra e ela se acalmou, demonstrando que ainda acreditava piamente estar viva. O bondoso orientador lhe recomendou dormir um pouco e a moça assim o fez porque realmente se sentia muito cansada. Quando ele lhe aplicou o passe magnético, a moça caiu em sono profundo e pôde ser levada pelo noivo à colônia espiritual mais próxima.



Aniceto comenta que esta relutância em aceitar o momento derradeiro se dá, em grande parte, pela falta de preparação religiosa das pessoas durante a encarnação. Acrescenta ele que aquela mulher era uma pessoa espontaneamente bondosa e por isso não necessitaria de um período de expurgo nas regiões umbralinas antes de prosseguir para os próximos estágios de seu aprendizado. No entanto, a absorção de noções de mundo de nossa cultura predominantemente materialista faz com que afastemos qualquer reflexão sobre a inevitabilidade do momento da morte. Nossa sociedade ocidental, com o advento do iluminismo, acabou por romper bruscamente com o pensamento da espiritualidade, e por motivos totalmente compreensíveis - já que a sociedade medieval estava imersa num regime monárquico orientado intimamente pelos dogmas da igreja. As pessoas por muito tempo utilizaram a religião como forma de exercer poder, e isso levou boa parte da sociedade na época - em especial os mais questionadores - a adquirir grande repulsa pela ideia de religião, ao invés de rejeitar apenas os que dela abusavam.



Na modernidade, ciência e religião são totalmente separadas e não se misturam. A “ciência esclarece e ilumina” e a “religião emburrece e obscurece”. Sendo assim, a rejeição de uma pela outra cresceu a níveis alarmantes, e as consequências deste antagonismo irracional resultou no estado emocional instável da coletividade nos tempos atuais. Afinal, a racionalidade científica, ainda que nos proporcione imensas facilidades, se não estiver acompanhada da iluminação espiritual e de uma perspectiva da vida futura não preenche a totalidade de nosso ser. Nos deixa, portanto, incompletos.



No sistema capitalista vigente, faz-se também necessário criar, constantemente, demanda para a oferta que garantirá o crescimento econômico ano após ano. Esta prática culmina na criação de necessidades e hábitos de consumo através da propaganda e do marketing. E o marketing, por sua vez, no intuito de fidelizar a demanda, associa ideias poderosas aos produtos que estão à venda. Sobretudo, busca convencer o vulgo de que seu produto trará a felicidade instantaneamente. Ora, o que é mais anticlímax para alcançar a felicidade do que a lembrança de que vamos morrer? A morte representa justamente o abandono de tudo aquilo que pode ser comprado. A ruptura com todas as alegrias terrenas que a cultura moderna idolatra. Portanto, por ser anticlímax, a morte acaba sendo marginalizada pelas mídias de todos os tipos, sendo tratada quase como inexistente em livros, filmes e programas de TV. Logo, o medo que temos da travessia - natural por nosso desconhecimento em relação à morte - é fortificado pela rejeição absorvida no entretenimento e nos costumes. Paralelamente, o apego que desenvolvemos em relação à vida na Terra e aos entes queridos agrava o horror que temos do momento de desencarne, pois nos assusta enormemente pensar que não estará mais ao nosso alcance (mesmo que por um breve período de tempo) uma pessoa que sempre nos foi acessível e cujo amor sempre esteve à nossa disposição.



Sendo assim, quando Aniceto diz que falta preparo religioso às pessoas para que passem pela transição com maior tranquilidade, ele não se refere à necessidade de seguirmos normas dentro de determinada doutrina, mas de refletirmos mais frequentemente sobre a natureza da verdadeira vida, a eterna vida do espirito imortal. Trata-se de despertar a consciência espiritual para entender que a atual existência nada mais é que uma viagem da qual levamos somente os frutos de nossas próprias ações, e para compreender que nossa felicidade dependerá do esforço que empregamos para fazer os outros mais felizes, sejam eles próximos ou não. Contudo, refletir sobre a verdadeira vida consiste também em manter em mente a inevitabilidade da morte. Pois a morte, juntamente com a reencarnação e com a busca incessante do ser pelo progresso, compõe o ciclo perfeito da existência espiritual, o ciclo que nos levará um dia para os braços ternos do Pai, e que pode ser representado pela bela frase de Kardec: “Nascer, morrer, renascer ainda, progredir sempre, tal é a lei”.

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