sábado, 12 de janeiro de 2019

Artigo referente ao tema de 06/01:"Deus e Eu: A Origem do Espirito"(parte 2)


Deus e eu: A origem de nosso ser.

Quando Divaldo Pereira Franco iniciou seus estudos no Espiritismo, perguntou ao seu guia espiritual por onde deveria começar. A resposta, como não poderia deixar de ser, foi: “leia o Livro dos Espíritos”. Como ainda era bastante jovem e a linguagem deste livro um tanto complexa, Divaldo prosseguiu com dificuldade, lendo-o com consultas frequentes ao dicionário. E quando ele finalmente terminou, voltou a questionar seu mentor sobre qual obra deveria estudar. A resposta foi rápida: “leia o Livro dos Espíritos”. E lá foi ele reler a obra, desta vez com uma compreensão melhor e mais acurada de seus mais variados ensinamentos. Ao final de sua segunda leitura foi instruído a lê-lo por uma terceira vez. E foi então que ele percebeu que poderia ler a obra quantas vezes fosse que jamais deixaria de aprender coisas novas sobre a vida espiritual e sobre as estratégias possíveis para atingir a meta da reforma íntima.

Antes dissemos que são chegados os tempos do Homo Moralis (o homem moral). O homem que se preocupa majoritariamente com o melhoramento de si mesmo no objetivo de construir um mundo melhor. Mas, se estivermos à procura de um guia seguro para assumirmos as características deste ser, o Livro dos Espíritos nos oferece um conjunto completo de leis morais que, se colocadas em prática, certamente nos levarão a atingir nossa meta. São as Leis Morais da terceira parte do Livro dos Espíritos. E no mês de janeiro de 2019, na Mocidade Espirita do Paz e Amor Jesus (MEPAJ), iremos abordar brevemente estas leis em nossos temas dominicais no intuito de estimular tanto o estudo aprofundado da obra quanto a reflexão íntima dos mocidandos, começando pela Lei de Adoração.

Segundo o Livro dos Espíritos, a Lei de Adoração consiste na elevação do pensamento a Deus e que através da adoração o homem aproxima dEle seu espírito. Podemos dizer que, se fazer o bem e praticar a caridade são ações que renovam totalmente nossas energias e alimentam nossas almas para os dias de luta que enfrentamos em nossas vidas, a aproximação de Deus é por si só um alimento tão poderoso quanto a boa conduta, pois conversar com Deus é como receber a luz que nos permitirá realizar a fotossíntese da alma, criando assim, através dEle, o alimento que fortifica e encoraja. E esta aproximação, como citado na obra, pode ser feita pela elevação do pensamento e pela prece, mas certamente a forma mais eficiente de realizá-la é por meio das virtudes que adquirimos na vida prática. Nada agrada mais a Deus que um filho empenhado em fazer as melhores escolhas, independente do meio em que esteja inserido.

Frequentemente dizemos que evoluir é a tarefa central da existência dos espíritos, mas poucas vezes lembramos que, na realidade, evoluir é ainda um meio - ainda que seja o principal - para o nosso real objetivo, que é chegar a Deus, nosso Pai. Retornar aos braços ternos que nos geraram e encontrar a felicidade no colo daquEle a quem tudo devemos. O Iluminismo surgiu com a proposta do homem autoiluminado, inteligente e crítico, que esclarece a si mesmo. Um homem autossuficiente em sua busca pela felicidade. O movimento, que pôs fim à era medieval, foi um justo questionamento ao obscurantismo propagado pelas instituições religiosas por séculos a fio, sempre impondo crenças e explicando fenômenos com dogmas irracionais. No entanto, o homem tem uma necessidade intrínseca de amor. Precisa de uma fonte de amor tanto quanto necessita desenvolver sua inteligência. Tendo uma e carecendo de outra fica emocionalmente coxo.

Logo, o homem autoiluminado pôde se satisfazer momentaneamente com a busca do conhecimento sem restrições, mas não demorou para que começasse a sentir a limitação de suas energias, pois nenhum rio continua correndo caso se desconecte da fonte. Podemos até buscar fazer o bem como meio de recarregar nossas energias, mas se estivermos distantes de Deus, isto é, desconectados da fonte suprema de luz, encontraremos imensa dificuldade para permanecer na conduta do bem. Em algum momento faltará empenho, motivação, disposição, e, finalmente, perderemos de vista a razão pela qual estamos buscando este bem. Em outras palavras, é a luz de Deus que nos lembra do amor que podemos e devemos nutrir pelas criaturas e por nós mesmos e que nos mantém firmes na tarefa de nos tornarmos pessoas melhores.

Exatamente por isso hoje constatamos a existência de tantas almas exauridas. Pessoas tristes, em depressão, intelectualmente desenvolvidas, mas emocionalmente destruídas. Em grande parte por conta da cultura estabelecida que separa o Divino do científico, colocando-os como antagônicos entre si e ignorando que fazem parte da mesma natureza, as pessoas acabaram por se afastar do pensamento em Deus, classificando o contato com Ele como ingenuidade ou misticismo. Tal “desencantamento” resultou na ruptura do ser com sua origem divina, impedindo-o de beber na maior fonte de amor de todas. Hoje, após diversas décadas de desenvolvimento intelectual da humanidade - avanços que inclusive proporcionaram facilidades inéditas -, sentimos as consequências desta ruptura pelo crescente número de pessoas infelizes e insatisfeitas com suas próprias vidas, mesmo que possuam tudo aquilo que a sociedade julga ser suficiente para ter uma vida plena e feliz.

As reflexões do Homo Moralis

Como dissemos antes, é chegada a era do Homem Moral. Aquele que se preocupa majoritariamente com sua conduta moral na vida encarnada. Entretanto, para assumir verdadeiramente a missão do mesmo, precisamos nos comprometer com três deveres. São eles: 1-) o dever para com Deus, 2-) o dever para consigo mesmo, e 3-) o dever para com o outro, sendo que os três estão intimamente interligados entre si, até mesmo chegando a, frequentemente, confundirem-se. A lei de Adoração, da qual estamos falando aqui, está especialmente ligada ao dever para com Deus. As demais serão abordadas nos temas seguintes.

No dicionário, “Adoração é o ato de amar de modo intenso, podendo ter ou não conotação religiosa. Está relacionado a respeito, reverência, forte admiração ou devoção em relação a determinada pessoa, lugar ou coisa”. Ou seja, adorar significa admirar e amar. E nós, inconscientemente, sempre projetamos em nós tudo aquilo que adoramos (não necessariamente será Deus). Isto é, buscamos automaticamente tornarmo-nos o que adoramos. Nossos objetos de Adoração estão constantemente potencializando nossas emoções e sentimentos. E se adoramos uma pessoa, buscaremos, voluntária ou involuntariamente, ser como esta pessoa. O mesmo se dá com ideologias, religiões, preferências estéticas, etc. “Onde está o vosso tesouro, aí está o teu coração”. Se o teu tesouro está em Deus, teu coração fará de tudo para se assemelhar a Ele. Por isso Jesus dizia: “Ama a Deus sobre todas as coisas” e “Sede logo perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito”. O mestre nos mostrava assim que o amor que direcionamos a Deus irá influenciar diretamente nossas disposições para o aperfeiçoamento moral.

A prece é a ferramenta mais valiosa de que dispomos para buscar uma aproximação inicial de Deus e assim garantirmos a disposição necessária para fazer o bem na prática, promovendo afinal a aproximação efetiva que buscamos. Quando elevamos o pensamento em prece, angariamos energias que nos ajudarão a resistir às tentações de todo tipo e nos permitirão tornar a boa conduta algo perene, que se prolonga no tempo. A prece é um vislumbre da felicidade que a plena conexão com Deus pode nos proporcionar e é também a maneira mais efetiva de encorajamento perante as tarefas celestes e mundanas. Sempre que hesitarmos nos caminhos do bem ou que pendermos em direção ao mal, a prece será uma estratégia segura para nos fazer focar naquilo que realmente importa.

No fim do século XIX, James Tyler Kent, em seus estudos sobre a homeopatia concluiu que, a despeito de existirem milhões de doenças catalogadas, existe apenas uma enfermidade primária, que daria origem a todas as outras, a que ele chamava de Psora Primária:
“A Psora Primária, devo recordar, é a “nebulosa lembrança”, que mancha a imaginação, do que o homem foi, do que o homem teve, do processo pelo qual ele deixou de ser o que era e de ter o que tinha; em conseqüência está composta por todos os passos do dito processo e, estes, constituem os germens das futuras atitudes miasmáticas […]”. Através de sua explicação, podemos verificar que as doenças surgem da desconexão do ser com sua própria origem, ou seja, com a entidade divina perfectível que somos. Pois no início dos tempos recebemos em nossos espíritos a inscrição das leis de Deus e sabíamos de cor tudo o que era necessário para alcançar a felicidade. No entanto, a inexperiência e o desconhecimento nos fizeram perder a nós mesmos e seguir por caminhos tortos. A enfermidade primária seria então a ruptura com Deus em determinado âmbito, e tal afastamento provocaria o esquecimento da Lei Natural por tanto tempo que viria a gerar até mesmo doenças físicas.

Se podemos afirmar que a origem de todos os nossos problemas está em nosso afastamento gradativo de Deus e suas leis, podemos também dizer que a natureza do nosso afastamento dEle irá influenciar fortemente nosso comportamento e nossas relações em diversos níveis. Portanto, a modalidade de ruptura que tivermos com Deus se imporá sobre a forma como lidamos com os outros e conosco mesmos. Sendo assim, nossos relacionamentos sofrerão influência direta desta modalidade. Caso nos afastemos de Deus na modalidade da revolta, nossas relações estarão marcadas pela revolta contra qualquer estrutura hierárquica, ou se nos afastamos dEle com base no ceticismo, também nossa maneira de nos relacionar levará esta característica. O mesmo se dá quando a causa do afastamento é a vergonha, a arrogância, o excesso de amor próprio, a indiferença, etc. Todas estas causas de ruptura serão projetadas exponencialmente em nossas relações.

Portanto, que, como homens morais, estejamos mais atentos à nossa relação com Deus, pois a natureza da mesma dá origem a todas as alegrias e tristezas que colheremos no futuro. A quantas anda o seu contato com Deus? Não seja tímido, pois Deus não julga nem se entristece com quem não faz prece há muito tempo, nem rejeita quem não tenha seguido suas recomendações por um longo periodo. Como grande pai (e mãe) que é, recebe a todos os seus filhos que buscam contato com Ele e busca lhes ajudar a ter sucesso em suas vidas. Para tanto, basta que tenham uma vontade sincera de corrigir os equívocos anteriores e serem pessoas melhores no futuro.


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