Deus e eu: A origem
de nosso ser.
Quando Divaldo
Pereira Franco iniciou seus estudos no Espiritismo, perguntou ao seu guia
espiritual por onde deveria começar. A resposta, como não poderia deixar de
ser, foi: “leia o Livro dos Espíritos”. Como ainda era bastante jovem e a
linguagem deste livro um tanto complexa, Divaldo prosseguiu com dificuldade,
lendo-o com consultas frequentes ao dicionário. E quando ele finalmente
terminou, voltou a questionar seu mentor sobre qual obra deveria estudar. A
resposta foi rápida: “leia o Livro dos Espíritos”. E lá foi ele reler a obra,
desta vez com uma compreensão melhor e mais acurada de seus mais variados
ensinamentos. Ao final de sua segunda leitura foi instruído a lê-lo por uma terceira
vez. E foi então que ele percebeu que poderia ler a obra quantas vezes fosse
que jamais deixaria de aprender coisas novas sobre a vida espiritual e sobre as
estratégias possíveis para atingir a meta da reforma íntima.
Antes dissemos que
são chegados os tempos do Homo Moralis (o homem moral). O homem que se preocupa
majoritariamente com o melhoramento de si mesmo no objetivo de construir um
mundo melhor. Mas, se estivermos à procura de um guia seguro para assumirmos as
características deste ser, o Livro dos Espíritos nos oferece um conjunto
completo de leis morais que, se colocadas em prática, certamente nos levarão a
atingir nossa meta. São as Leis Morais da terceira parte do Livro dos
Espíritos. E no mês de janeiro de 2019, na Mocidade Espirita do Paz e Amor
Jesus (MEPAJ), iremos abordar brevemente estas leis em nossos temas dominicais
no intuito de estimular tanto o estudo aprofundado da obra quanto a reflexão
íntima dos mocidandos, começando pela Lei de Adoração.
Segundo o Livro dos
Espíritos, a Lei de Adoração consiste na elevação do pensamento a Deus e que
através da adoração o homem aproxima dEle seu espírito. Podemos dizer que, se
fazer o bem e praticar a caridade são ações que renovam totalmente nossas
energias e alimentam nossas almas para os dias de luta que enfrentamos em
nossas vidas, a aproximação de Deus é por si só um alimento tão poderoso quanto
a boa conduta, pois conversar com Deus é como receber a luz que nos permitirá
realizar a fotossíntese da alma, criando assim, através dEle, o alimento que
fortifica e encoraja. E esta aproximação, como citado na obra, pode ser feita
pela elevação do pensamento e pela prece, mas certamente a forma mais eficiente
de realizá-la é por meio das virtudes que adquirimos na vida prática. Nada
agrada mais a Deus que um filho empenhado em fazer as melhores escolhas,
independente do meio em que esteja inserido.
Frequentemente
dizemos que evoluir é a tarefa central da existência dos espíritos, mas poucas
vezes lembramos que, na realidade, evoluir é ainda um meio - ainda que seja o
principal - para o nosso real objetivo, que é chegar a Deus, nosso Pai.
Retornar aos braços ternos que nos geraram e encontrar a felicidade no colo
daquEle a quem tudo devemos. O Iluminismo surgiu com a proposta do homem
autoiluminado, inteligente e crítico, que esclarece a si mesmo. Um homem
autossuficiente em sua busca pela felicidade. O movimento, que pôs fim à era
medieval, foi um justo questionamento ao obscurantismo propagado pelas
instituições religiosas por séculos a fio, sempre impondo crenças e explicando
fenômenos com dogmas irracionais. No entanto, o homem tem uma necessidade
intrínseca de amor. Precisa de uma fonte de amor tanto quanto necessita
desenvolver sua inteligência. Tendo uma e carecendo de outra fica emocionalmente
coxo.
Logo, o homem
autoiluminado pôde se satisfazer momentaneamente com a busca do conhecimento
sem restrições, mas não demorou para que começasse a sentir a limitação de suas
energias, pois nenhum rio continua correndo caso se desconecte da fonte.
Podemos até buscar fazer o bem como meio de recarregar nossas energias, mas se
estivermos distantes de Deus, isto é, desconectados da fonte suprema de luz,
encontraremos imensa dificuldade para permanecer na conduta do bem. Em algum
momento faltará empenho, motivação, disposição, e, finalmente, perderemos de
vista a razão pela qual estamos buscando este bem. Em outras palavras, é a luz
de Deus que nos lembra do amor que podemos e devemos nutrir pelas criaturas e
por nós mesmos e que nos mantém firmes na tarefa de nos tornarmos pessoas
melhores.
Exatamente por isso
hoje constatamos a existência de tantas almas exauridas. Pessoas tristes, em
depressão, intelectualmente desenvolvidas, mas emocionalmente destruídas. Em
grande parte por conta da cultura estabelecida que separa o Divino do
científico, colocando-os como antagônicos entre si e ignorando que fazem parte
da mesma natureza, as pessoas acabaram por se afastar do pensamento em Deus,
classificando o contato com Ele como ingenuidade ou misticismo. Tal
“desencantamento” resultou na ruptura do ser com sua origem divina, impedindo-o
de beber na maior fonte de amor de todas. Hoje, após diversas décadas de
desenvolvimento intelectual da humanidade - avanços que inclusive
proporcionaram facilidades inéditas -, sentimos as consequências desta ruptura pelo
crescente número de pessoas infelizes e insatisfeitas com suas próprias vidas,
mesmo que possuam tudo aquilo que a sociedade julga ser suficiente para ter uma
vida plena e feliz.
As reflexões do Homo
Moralis
Como dissemos antes,
é chegada a era do Homem Moral. Aquele que se preocupa majoritariamente com sua
conduta moral na vida encarnada. Entretanto, para assumir verdadeiramente a
missão do mesmo, precisamos nos comprometer com três deveres. São eles: 1-) o
dever para com Deus, 2-) o dever para consigo mesmo, e 3-) o dever para com o
outro, sendo que os três estão intimamente interligados entre si, até mesmo
chegando a, frequentemente, confundirem-se. A lei de Adoração, da qual estamos
falando aqui, está especialmente ligada ao dever para com Deus. As demais serão
abordadas nos temas seguintes.
No dicionário,
“Adoração é o ato de amar de modo intenso, podendo ter ou não conotação
religiosa. Está relacionado a respeito, reverência, forte admiração ou devoção
em relação a determinada pessoa, lugar ou coisa”. Ou seja, adorar significa
admirar e amar. E nós, inconscientemente, sempre projetamos em nós tudo aquilo
que adoramos (não necessariamente será Deus). Isto é, buscamos automaticamente
tornarmo-nos o que adoramos. Nossos objetos de Adoração estão constantemente
potencializando nossas emoções e sentimentos. E se adoramos uma pessoa,
buscaremos, voluntária ou involuntariamente, ser como esta pessoa. O mesmo se
dá com ideologias, religiões, preferências estéticas, etc. “Onde está o vosso
tesouro, aí está o teu coração”. Se o teu tesouro está em Deus, teu coração
fará de tudo para se assemelhar a Ele. Por isso Jesus dizia: “Ama a Deus sobre
todas as coisas” e “Sede logo perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito”. O
mestre nos mostrava assim que o amor que direcionamos a Deus irá influenciar
diretamente nossas disposições para o aperfeiçoamento moral.
A prece é a
ferramenta mais valiosa de que dispomos para buscar uma aproximação inicial de
Deus e assim garantirmos a disposição necessária para fazer o bem na prática,
promovendo afinal a aproximação efetiva que buscamos. Quando elevamos o
pensamento em prece, angariamos energias que nos ajudarão a resistir às
tentações de todo tipo e nos permitirão tornar a boa conduta algo perene, que
se prolonga no tempo. A prece é um vislumbre da felicidade que a plena conexão
com Deus pode nos proporcionar e é também a maneira mais efetiva de
encorajamento perante as tarefas celestes e mundanas. Sempre que hesitarmos nos
caminhos do bem ou que pendermos em direção ao mal, a prece será uma estratégia
segura para nos fazer focar naquilo que realmente importa.
No fim do século XIX,
James Tyler Kent, em seus estudos sobre a homeopatia concluiu que, a despeito
de existirem milhões de doenças catalogadas, existe apenas uma enfermidade
primária, que daria origem a todas as outras, a que ele chamava de Psora
Primária:
“A Psora Primária,
devo recordar, é a “nebulosa lembrança”, que mancha a imaginação, do que o
homem foi, do que o homem teve, do processo pelo qual ele deixou de ser o que
era e de ter o que tinha; em conseqüência está composta por todos os passos do
dito processo e, estes, constituem os germens das futuras atitudes miasmáticas
[…]”. Através de sua explicação, podemos verificar que as doenças surgem da
desconexão do ser com sua própria origem, ou seja, com a entidade divina
perfectível que somos. Pois no início dos tempos recebemos em nossos espíritos
a inscrição das leis de Deus e sabíamos de cor tudo o que era necessário para
alcançar a felicidade. No entanto, a inexperiência e o desconhecimento nos
fizeram perder a nós mesmos e seguir por caminhos tortos. A enfermidade
primária seria então a ruptura com Deus em determinado âmbito, e tal
afastamento provocaria o esquecimento da Lei Natural por tanto tempo que viria
a gerar até mesmo doenças físicas.
Se podemos afirmar
que a origem de todos os nossos problemas está em nosso afastamento gradativo
de Deus e suas leis, podemos também dizer que a natureza do nosso afastamento
dEle irá influenciar fortemente nosso comportamento e nossas relações em
diversos níveis. Portanto, a modalidade de ruptura que tivermos com Deus se
imporá sobre a forma como lidamos com os outros e conosco mesmos. Sendo assim,
nossos relacionamentos sofrerão influência direta desta modalidade. Caso nos
afastemos de Deus na modalidade da revolta, nossas relações estarão marcadas
pela revolta contra qualquer estrutura hierárquica, ou se nos afastamos dEle
com base no ceticismo, também nossa maneira de nos relacionar levará esta
característica. O mesmo se dá quando a causa do afastamento é a vergonha, a
arrogância, o excesso de amor próprio, a indiferença, etc. Todas estas causas
de ruptura serão projetadas exponencialmente em nossas relações.
Portanto, que, como
homens morais, estejamos mais atentos à nossa relação com Deus, pois a natureza
da mesma dá origem a todas as alegrias e tristezas que colheremos no futuro. A
quantas anda o seu contato com Deus? Não seja tímido, pois Deus não julga nem
se entristece com quem não faz prece há muito tempo, nem rejeita quem não tenha
seguido suas recomendações por um longo periodo. Como grande pai (e mãe) que é,
recebe a todos os seus filhos que buscam contato com Ele e busca lhes ajudar a
ter sucesso em suas vidas. Para tanto, basta que tenham uma vontade sincera de
corrigir os equívocos anteriores e serem pessoas melhores no futuro.
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